Fotos: Fábio Pavan e Arquivo pessoal/Divulgação Resiliência, no contexto geral, é a capacidade de um sistema, seja ele físico, biológico ou social, de se adaptar e se recuperar de perturbações ou adversidades, retornando ao seu estado original ou evoluindo para um novo estado de equilíbrio. Em psicologia, a resiliência refere-se à capacidade de um indivíduo superar desafios
A natureza é perfeita em sua essência, sensibilidade e sutileza. A vida nasce o tempo inteiro, em suas diversas formas. Começa e recomeça. Vai se transformando. Evolui. É dádiva diária, é milagre cíclico, constante, eterno. E nesta magia da existência na Terra, cada um tem o seu papel.
A polinização aparece como um dos lindos fenômenos da vida. Processo crucial na reprodução de plantas com flores. Consiste na transferência do pólen, que contém os gametas masculinos, da antera (parte masculina da flor) para a o estigma (parte feminina), permitindo a fertilização e a formação de sementes. Este processo é fundamental para a reprodução de plantas e à produção de frutos e sementes, primordial à manutenção da biodiversidade e dos ecossistemas.
Esta maravilhosa arquitetura do privilégio da vida da colorida, irretocável e magnífica flora por causa de pequenos animaizinhos, gigantes e insubstituíveis em seus afazeres no meio ambiente.
São estes belos que passeiam em seus voos felizes e admirados cada vez em que pousam sobre as flores. Abelhas, borboletas, beija-flores, besouros, morcegos, os transportadores responsáveis por levar beleza e suavidade para lá e para cá.
Neste planeta Terra existem alguns seres humanos que podem assumir o compromisso da polinização. Pode ser de várias formas, como fazem os Doutores do Riso, palhaços que levam risadas e momentos de descontração a crianças em hospitais. E os Heróis pela Vida, pessoas comuns que se fantasiam de super-heróis e encantam crianças e adolescentes em internação em unidades hospitalares para tratamento de saúde.
A solidariedade também é um dispositivo de polinização do bem, como doação de tempo, atenção, afeto, carinho, alimentos e itens de primeira necessidade e sobrevivência. Assim como clubes de senhoras que produzem enxovais para bebês recém-nascidos. Enfim, uma infinidade de atitudes espalham bons exemplos por aí. Ah, se as pessoas os multiplicassem, o mundo, sem sombra de dúvidas, seria melhor.
Em Lages, uma moça desempenha, com primor, e por pura espontânea vontade, sua parte de fazer o bem neste plano terreno. Ela espalha e multiplica atitudes, reflete otimismo e ensina, conscientemente, que a vida é um presente a cada despertar com o raiar do Sol a cada dia.
Sua personalidade, autenticidade e identidade são brilhantes. Deise Maria Alves Inacio tem 54 anos de idade e nasceu no município de Lages. Está solteira e atualmente reside no bairro Guarujá. Com ensino médio completo, Deise possui vários cursos técnicos - Relações Humanas, Balé Clássico Básico, Dança Contemporânea Básico e Teatro. “Tenho uma filha, minha maior conquista. Ela se chama Isis Kiusley Inacio. Ela tem 30 anos, é casada e tem um filhinho. Meu neto que se chama Miguel”, conta esta vovó orgulhosa e amorosa.
Em uma agenda apertada, Deise encontra tempo para cuidar de seus dois bichinhos de estimação. “Pedrinho Inacio tem 12 anos, é um cão, e agora adotei mais uma cachorrinha, de uns seis meses, que se chama Amarelinha Inacio - os dois de raça indefinida, resgatados de maus-tratos, pois amo ❤️ muito os animais.”
Amplamente ativa no dia a dia, Deise não admite inércia e nem desculpas para experimentar coisas novas e sugar da vida o que ela tem de melhor a oferecer. Deise é a única pessoa cadeirante de Lages e região serrana que canta música sertaneja raiz e música nacional e internacional. E você acha que já está bom assim? Ela é bailarina na cadeira de rodas, paratleta, telefonista, palestrante e escritora.
Versátil e pronta pra qualquer passeio
Vaidosa e moderna, gosta de piercing, brincos grandes de argola, colares longos, maquiagem, batom vermelho ou rosa forte, unhas longas com esmalte de cor forte e marcante e cabelos compridos com mechas loiras e, às vezes, com fios coloridos, e franja. Não dispensa vestir um belo e tradicional vestido de prenda ou uma calça de couro e um de seus chapéus de cowgirl para tocar seus violões.
Independência, autonomia, opinião
Deise realiza todas as tarefas de casa sozinha, incluindo cultiva um jardim dentro de casa, pelo qual tem o maior apreço.
Quem é Deise por Deise?
“Superação”, bem resume a paratleta e artista.
A gente fica curiosa de saber mais sobre a Deise, não é mesmo? E nada melhor do que saber por ela própria
Ressignificar, mudar a visão sobre determinado panorama, entender o que está e o que não está sob seu controle. Tomar posse e exercitar a disciplina, hábito e constância sob este novo prisma de vida. Reclamar menos. Agradecer mais. Fazer mais e pelo melhor. Obter resultados. Admirar as outras pessoas. Suas qualidades. Ter mais empatia. Ser melhor do que si mesmo, sem comparações. Simplesmente ser.
“Tenho sequela de pólio [poliomielite], por falta da vacina contra a paralisia infantil, sofrida aos três meses de vida, paralisando meu lado esquerdo inteiro, ou seja, membros inferior e superior - perna e braço. Esta doença ‘me’ tirou o desenvolvimento dos ossos e, sendo assim, tirando a força, mas não a sensibilidade. [Adendo - Poliomielite e paralisia infantil são a mesma coisa. Doença contagiosa aguda causada por vírus que pode infectar crianças e adultos]
Na minha infância, comecei a andar aos cinco anos de idade na primeira cirurgia no meu pé esquerdo, pois ele era ‘caído para o lado’. Ao todo, seis cirurgias, na perna e no pé.
Comecei a andar num andador de vime, dando os primeiros passos antes da cirurgia. Depois ‘coloquei’ uma órtese e andava de muletas. Após, consegui andar só com a órtese, deixando das muletas.
Conseguia ir aos bailes e dançava. Desde pequena meu pai me ensinou a dançar. Meu pai não tinha uma das mãos e nem o outro braço inteiro, devido a um acidente ocorrido em uma serralheria. Subia em cima dos seus pés e me agarrava à camisa dele, foi assim que aprendi a dançar... música sertaneja.
E aos cinco anos comecei a cantar música internacional, e músicas sertanejas de raiz. Fazia dublagens também.
E ao longo da minha vida, na fase da adolescência, sofri muitos preconceitos... Falta de acessibilidade...
Com o passar do tempo comecei a cantar em barzinhos. As pessoas me pediam sempre para dar uma ‘palhinha’. Mas nada profissional.
Depois ajudei a fundar a Asdf [Associação dos Deficientes Físicos de Lages]. Na sequência, por uma curiosidade, participei do primeiro Parajasc [Jogos Abertos Paradesportivos de Santa Catarina], na cidade de Chapecó, o que me despertou o interesse de ser paratleta profissional. No atletismo: Arremesso de disco e lançamento de dardo e peso.
Viajei Lages, Serra Catarinense e Estado de Santa Catarina representando Lages no circuito da Caixa [Econômica Federal] nas cidades de Curitiba e São Paulo. Ao todo, conquistando 37 medalhas de ouro, prata e bronze.
E foi em São Paulo que fiquei em 3º lugar no ranking nacional; deste modo conquistei o Bolsa Atleta durante um ano! [Programa Bolsa Atleta, de incentivo ao esporte, idealizado e desenvolvido pela Fundação Municipal de Esportes - FME de Lages] - um dos meus maiores orgulhos e conquistas também. Ao todo, nove anos da minha vida dedicados ao esporte representando Lages - Santa Catarina.
Nesta época também vim para a cadeira de rodas, pois sentia muitas dores no quadril em razão de uma displasia.
Após o uso da cadeira de rodas, por causa de muita falta de acessibilidade e de ver pessoas na mesma situação só reclamarem e não fazer nada, e também por passar por muitos constrangimentos, foi quando tomei a decisão de criar um tema: Lages, Acessibilidade Já! Aí comecei a fazer denúncias sobre a falta de acessibilidade em vários lugares, tais como lojas, bares, restaurantes, conseguindo também fazer com que os donos de estabelecimentos comerciais fizessem rampas, mas parabenizando sempre quem tem acessibilidade. E colocando nas redes sociais, fazendo meu próprio texto e conscientizando as pessoas da importância da acessibilidade e do direito de ir e vir. Hoje mudei o tema para ‘Acessibilidade Já!’.
Minha rua, Fernando Machado de Souza, aqui no meu bairro Guarujá, onde moro atualmente, também precisa de melhores condições, de pavimentação.
Quando vim para a cadeira de rodas, neste meio tempo de paratleta senti um desejo enorme de me tornar bailarina na cadeira de rodas, foi quando cheguei para minha técnica, Carla de Liz, do atletismo, que foi professora de balé clássico, e pedi para me ajudar a ser bailarina. Criamos uma coreografia com o tema ‘Saber viver’, em que nos apresentávamos em várias lugares.
Minha primeira apresentação de dança foi com o grupo de danças do Salésio, da Fundação Cultural de Lages (FCL), fazendo a abertura dos Jogos Paralímpicos da Apae.
No final da dança fiquei em pé. Foi quando um casal saiu do meio do público me abraçou, e a mulher, chorando abraçada comigo, me disse que nunca mais iria ter depressão [estava já em último grau da depressão] porque ela me viu como exemplo de superação.
Fiquei tão feliz que a partir deste dia, antes de cada apresentação, pedia ‘pra’ Deus que eu fosse instrumento D’ELE para levar esperança e motivação para as pessoas.
Aí começaram a surgir convites para dar palestras em colégios, faculdades. Os eventos das palestras terminavam com minha apresentação de dança “Saber Viver”, em que, na coreografia, contava minhas deficiências através da mímica, uma mistura de técnicas de balé clássico com dança contemporânea, na qual trabalho a letra da música e crio a coreografia, pois comecei a dançar sozinha sem minha professora, já que ela tinha ido embora pra outra cidade.
Tive de mudar quase toda a coreografia, sendo assim, interagindo com o público e chamando o para dançar comigo.
Até hoje onde me chamarem estarei lá com certeza, levando e contando minha própria história de vida como exemplo de superação! E apresentação de dança no final. Lembrando que tem toda uma produção por trás para a apresentação de dança... Cabelo, maquiagem, roupas.
Quando vim para a cadeira e senti na pele tudo o que os cadeirantes passavam por falta de acessibilidade decidi então transformar minha cadeira em instrumento de trabalho. Algumas vezes só ganhava a produção... cabelo, maquiagem. E na maioria das vezes arcava com todas as despesas, até de transporte.
Mas, no final, com muito esforço, lutas, e com muita garra valia sempre a pena, pois sempre peço ‘pra’ Deus que eu consiga tocar o coração das pessoas. E graças a Deus e aos meus esforços, a minha determinação e objetivo, conseguia. Pois não queria ser como muitas pessoas com deficiência ou não, que acabam se acomodando, e passar a vida inteira reclamando e não fazendo nada, como se a vida terminasse ali, como muitos que conheço. Desde os meus três meses de vida, quando tive a pólio, foi sempre uma luta cheias de dificuldades, barreiras, já que também venho de uma família humilde, daí carrego comigo sempre a humildade, no coração! E o desejo de lutar, vencer e nunca desistir. Apesar de tudo, consegui tudo o que eu quis ser ou quase tudo.”
E vem uma AUTOBIOGRAFIA por aí
Deise Inacio está escrevendo sua autobiografia. E está buscando patrocínio para viabilizar a publicação da obra literária. O título do livro ainda é uma incógnita. Deise está à procura de um nome forte, fruto de inspiração em sua própria história de vida. Obviamente, o título deverá atrair a atenção do público, consequentemente, para aquisição e leitura. Tudo dando certo, o plano é lançar a autobiografia até dezembro deste ano de 2025, ou então ficará para 2026. “Atualmente estou focada e escrevendo minha autobiografia, que vai ser lançada até no máximo em dezembro de 2026.”
Uma obra especial - Prefácio
“O objetivo deste livro é mostrar para todos que uma pessoa com deficiência pode, sim, levar uma vida normal. Pode, sim, superar obstáculos e barreiras. Quero inspirar futuras gerações e todas as pessoas a nunca desistirem de seus sonhos, a lutarem com coragem, força, sabedoria, discernimento e, principalmente, com fé e Deus no coração.
Quero mostrar que é possível tentar superar todos os tipos de barreiras, obstáculos, objetivos e sonhos. Desejo inspirar outras pessoas a serem fortes, a não se deixarem abalar, por mais árduas que sejam as lutas.
Nesta autobiografia, quero deixar meu legado como portadora de necessidades especiais. Não quero ser vista como exemplo de derrotas, mas sim como exemplo de superação. Desde muito cedo, senti dentro do meu coração o desejo de escrever este livro, contando minha história desde o nascimento, transmitindo a verdade do que senti, como superei cada fase da vida, o que mudou e como tudo isso me transformou.
Pretendo dividir este livro por partes, com títulos que representem cada etapa da minha trajetória.
A principal motivação para escrever esta autobiografia foi a minha própria história: cheia de obstáculos, barreiras, dificuldades e pessoas que, ao longo do tempo, sempre me incentivaram a escrever. Mas, acima de tudo, foi a minha superação que me impulsionou.
Meu maior desafio foi ter força e coragem para enfrentar as dificuldades de uma infância pobre e muito humilde — mas rica em motivação, esperança e fé. Também enfrentei o preconceito e a falta de acessibilidade, desafios constantes na minha vida.
Esta é a verdadeira história de Deise Mel, um apelido carinhoso que recebi de um namorado querido — o Pavão (in memoriam). Uma história real, com lutas, paixões, amores e, principalmente, superação. Uma história que vai emocionar a todos.
Minha superação teve como base, primeiramente, Deus. Depois, pessoas muito importantes na minha vida:
O maior aprendizado que carrego é que, por mais difíceis que sejam as lutas, nunca devemos desistir.
Meu legado? Uma pessoa portadora de três deficiências, que tinha tudo para dar errado, mas que escolheu enfrentar tudo com coragem, mesmo sabendo dos riscos. Cresci em uma infância simples e desafiadora, mas consegui superar boa parte dos obstáculos. De tudo o que vivi, extraí lições que me ajudaram a ser um ser humano melhor, mais humilde e, sobretudo, alguém que pode servir de exemplo de superação.
Esse é o legado que desejo deixar a todos que lerem este livro: que conheçam a verdadeira história da minha vida.”
Quero agradecer a minha amiga: Ester Maria Padilha, que conhece a minha história de vida
O que Deise espera do mundo e da vida?
“Mais amor entre os seres humanos e aos animais. Paz. Acessibilidade e respeito às pessoas com todas as formas de deficiência.”
O que é ser Orgulho Lageano?
“Ser Orgulho Lageano é cultivar minhas raízes e deixar um legado com o qual eu sempre contribui pelos meus trabalhos a nossa cidade de Lages, para ser um exemplo de superação! Ser Orgulho Lageano foi uma honra por poder colaborar a partir de uma pequena parte da minha história de vida e, principalmente, dos meus trabalhos com o tema ‘Acessibilidade Já!’, auxiliando e ao conscientizar as pessoas para a importância da Acessibilidade não somente na nossa cidade, mas em todos os municípios.”
Texto: Daniele Mendes de Melo
Fotos: Fábio Pavan e Arquivo pessoal/Divulgação
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